quarta-feira, 9 de junho de 2010

Conceitos e Operadores Transversais

Neste capítulo de Joel de Rosnay, inserido na obra de Edgar Morin “O desafio do século XXI: Religar os conhecimentos”, falamos de conceitos e operadores transversais, tendo como foco de discussão a ligação entre os diferentes conhecimentos, contrapondo a abordagem analítica vs abordagem sistémica.
Segundo o autor, para religar os conhecimentos à que ter atenção aos número de características comuns a sistemas complexos, diferentes uns dos outros, dando origem à complementaridade, que se verifica na abordagem analítica e na abordagem sistémica.
A pergunta que se coloca é como estabelecer ligações entre os diferentes conhecimentos?
Na abordagem analítica, as pesquisas incidem sobre as causas primeiras através do método analítico. Dá-nos como exemplo o microscópio e o telescópio como ferramentas que permitem dissecar a complexidade para a reduzirem a elementos simples. Isto levou a uma dispersão dos conhecimentos, a um desmoronamento dos saberes.
Por sua vez, a abordagem sistémica, após a avaliação melhor das relações das disciplinas entre si, a atitude “sistémica” permite organizar os conhecimentos de uma maneira diferente e compreender não apenas pela sua análise mas, também pela síntese. Dá-nos como exemplo o macroscópico que permite explicar a dinâmica, as evoluções, com o auxílio de simulações.
Segundo Joel de Rosnay, a abordagem analítica e abordagem sistémica são complementares na medida em que:
ABORDAGEM ANALÍTICA:
· CENTRA-SE NOS ELEMENTOS
· CONSIDERA AS NATUREZAS DA INTERACÇÕES
· PRECISÃO DOS PORMENORES
· É INDEPENDENTE DA DURAÇÃO
· MODIFICA UMA VARIÁVEL DE CADA VEZ
· OS FACTOS SÃO VALIDADOS POR PROVAS EXPERIMENTAIS DENTRO DO ÂMBITO DE UMA TEORIA
A SUA ACÇÃO MOSTRA-SE ORGANIZADA POR OBJECTIVOS


ABORDAGEM SISTÉMICA
· INTERESSA-SE PELAS INTERACÇÕES ENTRE ELES
· CONSIDERA AS NATUREZAS DAS INTERACÇÕES MAS TAMBÉM TEM EM CONTA IGUALMENTE OS EFEITOS
· PERCEPÇÃO GLOBAL
· INTEGRA A DURAÇÃO
· MODIFICA GRUPOS DE VARIÀVEIS SIMULTANEAMENTE
· OS FACTOS SÃO VALIDADOS POR COMPARAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DO MODELO COM A REALIDADE.
A SUA ACÇÃO MOSTRA-SE PROGRAMADA NO TEMPO

A abordagem analítica conduz à redução dos saberes num determinado número de disciplinas disjuntas, isoladas umas das outras (atitude por natureza enciclopédica). Por sua vez, a abordagem sistémica concentra-se nas interacções entre os parâmetros, entre os fenómenos.
Para o autor, reside ai a complementaridade destas duas abordagens pois, a abordagem analítica vai permitir extrair factos da natureza e, a abordagem sistémica favorece a inscrição dentro de um âmbito de referência mais amplo que permite o exercício da razão, da lógica.
Religar os conhecimentos implica debruçar sobre um certo número de características comuns a sistemas complexos, diferentes uns dos outros.
Essas características são:
- os sistemas complexos estão abertos sobre o seu meio ambiente. São atravessados por fluxos de materiais, de informações e de energias, em interacção com o ecossistema em que se encontram. Ex: célula viva, sistema urbano, sistema económico.
- a característica destes sistemas é a variedade dos elementos que os constituem e que estão em interacção permanente. Ex: moléculas, formigas, abelhas.
- os níveis hierárquicos de complexidade, ou seja, de organização.
- a presença de redes de comunicação é uma constante. Estes agentes comunicam uns com os outros por meio de redes de troca de informação, desde a rede telefónica até ao sistema nervoso.
- a interdependência dos elementos. A abordagem analítica, que isola cada um deles, despreza propriedades ditas “emergentes”, que resultam da sua interacção na duração.
- os “ciclos de duração” que permitem remeter uma informação desde a saída de um sistema até à entrada.
- os comportamentos dos sistemas complexos, no tempo, não são nem lineares nem extrapoláveis. Por vezes apresentam acelerações brutais, períodos de estabilização, assim como períodos de inibição em que os sistemas se anulam uns aos outros a partir da complexidade das trocas e das interacções.
A evolução de um sistema no tempo não é uma sucessão de transições entre elementos estáticos mas sim a obtenção de níveis sucessivos de complexidade ou, pelo contrário, de desorganização.
As acções levadas a cabo continuavam a ser causalísticas, agindo-se sobre um parâmetro e avaliando-se os resultados. Em sistémica moderna age-se sobre vários parâmetros ao mesmo tempo.
Para o autor, o nosso ensino deve oferecer quadros de referência analítica, mas também culminar numa relação com a acção, fundamental em sistémica.
Mais uma vez, salienta a complementaridade entre abordagem analítica e abordagem sistémica, pois a primeira é necessária para extrair da natureza os elementos e os factos que permitem basear as teorias e, com a segunda, é possível obter uma visão mais global dos sistemas, tornando possível a acção. Trata-se de uma metodologia que permite organizar os conhecimentos tendo em vista uma maior eficácia da acção.
“Aprender por aprender é uma coisa. Aprender para agir é outra. Aprender para compreender os resultados e os objectivos da acção é ainda outra coisa.” (Rosnay, 1999: 437).
Em vez de se levar a cabo a acumulação permanente dos conhecimentos, deve optar-se por uma relação entre a analítica e a sistémica que vai permitir religar os saberes dentro de quadro de referências mais amplo, que favorece o exercício da análise e da lógica.
O autor questiona se não será este um dos objectivos fundamentais da educação?
Com este capítulo o autor não tratou apenas de oferecer um quadro de referências mais amplo, de motivar os estudantes para lhes permitir agirem com mais eficácia, mas também de os ajudar a adquirirem uma cultura da complexidade e, portanto, uma cultura do mundo de amanhã.
“ Porque, com toda a evidência, o mundo de amanhã será cada vez mais complexo. Ora, a cultura não é tudo saber sobre um pequeno nada. Também não é saber pequenos nadas sobre um pouco de tudo, tal como se passa muitas vezes com pessoas ditas cultas. A cultura é uma argamassa, um cimento que permite construir sentido ao integrar os conhecimentos. O ensino de amanha deverá, pois, permitir aos jovens encontrarem uma profissão, mas sobretudo dar-lhes o sentido do respeito por outrem, da abertura e da tolerância, fazendo-os participarem, plenamente, na apaixonante busca do saber.” (Rosnay, 1999:437/438).
A nosso ver, numa educação como transmissão de conhecimentos, o essencial é que se dê uma devida formação que ensine o indivíduo a viver, que o torne mais autónomo, mais crítico, mais curioso, mais racional e reflexivo sobre os problemas que o rodeiam, enfim, apostar numa educação que leve o homem a ser um cidadão responsável, participativo e activo na construção de um mundo melhor. O ensino como arte de ensinar, visa transmitir o saber e a cultura, permitindo compreender as condições do homem, do mundo e ajudando-o a viver melhor. O principal objectivo é educar os homens dentro de uma visão sistémica, onde os conhecimentos estejam ligados entre si.

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