quarta-feira, 9 de junho de 2010

Transdisciplinaridade e Educação

Este autor situa a transdisciplinaridade na perspectiva de uma epistemologia definida por Jean Piaget há 30 anos. Nesta sua abordagem epistemológica, Piaget distinguia quatro domínios:
1. O domínio material (que o autor classifica de concreto) – o conjunto dos objectos sobre os quais incide uma ciência.
2. O domínio conceptual – o domínio das concepções que são necessárias a um início de abstracção para a abordagem directa dos objectos.
3. A meta – interior às disciplinas, o das teorias que entram em jogo no funcionamento dos conceitos e que são alimentados pelos conceitos da ciência.
4. O domínio epistemológico externo – separa a importância epistemológica mais geral dos resultados obtidos pela ciência considerada quando se compara com as outras.
Trata-se de pontos de referência para “religar os conhecimentos”.
É estabelecida uma relação entre estes saberes, contentando-se em aprender um mesmo objecto sob vários pontos de vista, fazendo com que o aluno veja quantos olhares possíveis de podem lançar sobre este projecto. Sendo também possível aprender de maneira extremamente abstracta, observando-se ao nível mais exterior, que faz unirem-se e desunirem-se as diferentes ciências que apreendem este projecto.
Citando ainda Piaget, o autor refere-se ao desenvolvimento cognitivo, que era entendido no sentido da abstracção. A abstracção, cujo conceito é extremamente dinâmico, aplica dois processos cognitivos em interacção: um processo de interiorização (consiste em interiorizar dados do mundo material) e, um processo de enriquecimento. Vai exigir um trabalho de descentragem, obrigando a introduzir aquilo que se adquiriu dentro de um âmbito mais vasto e que leva a uma certa relativização.
É importante quando se quer compreender o funcionamento cognitivo dos alunos, pois estes não funcionam de maneira estritamente racionalista. Utilizam um outro aspecto da razão, que comporta uma abertura sobre o imaginário, sem por isso ser irracional.
“Quando o aluno pergunta para que serve o que faço? Como ligar os meus estudos com a vida?” (LERBET, 1999: 464).
A escola tem tendência a esquecer o que é da ordem da poética da ciência, reservando o seu acesso a quem já estudou ou que vá fazer um trabalho transdisciplinar. Para se evitar que se encerre e que se fracasse numa atitude científica, deve-se ter em conta as duas dimensões da racionalidade do aluno.
Segundo o autor, a maneira de aprender está na existência de uma grande generalidade dos conteúdos a assimilar bem como uma incrível diversidade de estratégias entre os alunos para o fazer. Os bons alunos tiveram êxito dentro do sistema, capazes de valorizar o algoritmo “primeiro compreendo, depois consigo”. Os restantes criam estratégias para evitar o fracasso.
O sistema pedagógico está baseado no consumo dos saberes, não permitindo que o consumo destes saberes seja suficientemente interiorizado e que o indivíduo tenha uma capacidade suficiente de descentragem.
“Só dá acesso ao êxito a alguns e organiza com inconsciência o fracasso dos outros.” (LERBET, 1999:466).
O autor termina o seu capítulo dizendo ser necessário introduzir novas modalidades pedagógicas que permitam à criança “primeiro conseguir e em seguida compreender”, com estratégias de alternância, implicando uma produção e não um consumo de saber. Estas pedagogias levariam ao êxito inúmeros jovens que estão em situação de fracasso. Permitiria a alunos, em situação de êxito dentro do sistema clássico, interiorizarem a transdisciplinaridade e darem conta que não basta ter aprendido coisas para se ser capaz de as ensinar dentro de um espírito científico.
Do nosso ponto de vista e, tendo em conta a igualdade de direitos e de oportunidades para todos, é imprescindível que estejamos atentos a cada criança na sua individualidade e que haja uma preocupação constante e crescente em criar estratégias para que todos possam ter aprendizagens de sucesso e que o fracasso seja cada vez mais escasso entre os alunos. Sem dúvida que a transdisciplinaridade parte de um conjunto de saberes criados, que se baseiam na acção e na experiência que conduzem à recriação e à reconstrução. Para se desenvolver uma produção de sentido é fundamental que haja um grande envolvimento por parte do sujeito, a fim de obter um trabalho criador e gerador de sentido de vida. Desta forma, a educação transdisciplinar visa a libertação, bem como estimular a religação das pessoas, dos eventos, e das pessoas aos eventos. Visa proporcionar acima de tudo, a esperança na redescoberta do prazer que existe no processo de aprendizagem. Como nos leva a ter uma nova e diferente visão do mundo e de nós mesmos, a transdiciplinaridade na educação pode nos ajudar a mudar o mundo, a transformar o que nos rodeia, enfim, a tornar o mundo num mundo melhor.

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